🌿O que que eu vou fazer com essa tal criatividade?
O processo criativo se aprende, a vida é uma escola

E lá se vão quase dois meses desde o nosso último encontro por aqui. Criar conteúdo priorizando a saúde de quem faz às vezes tem esse preço. E como trabalhamos nos últimos meses: teve cliente novo, equipe crescendo, projetos desafiadores, muito trabalho e muita criatividade envolvida. Tudo isso enquanto o mundo em volta não parou.
Produzimos coisas como uma campanha para a Unicef, abraçamos as redes sociais da CBIC, entregamos um site novo – e em inglês – para a CNA e estamos em um projeto muito legal que envolve tecnologia e a quarta revolução industrial. Tratamos de assuntos como cidades inteligentes, vacinas para crianças, sustentabilidade, energia limpa. Ainda assim, na última reunião interna, ouvi colegas dizerem que “são muito quadradas”. Mesmo que elas estejam envolvidas em todas essas entregas criativas, sensíveis e inovadoras.
Algumas coisas explicam isso. Há algo de fascinante e ao mesmo tempo angustiante em se trabalhar com criatividade. Porque há quem acredite que criatividade é um cometa que cruza o planeta a cada 80 anos e que, quem tiver sorte de ver, viu. Se não, é hora de voltar às nossas vidas quadradas esperando que ele passe novamente. Então fica meio difícil essa espera. Ainda mais quando ela é o seu ganha pão.
Só que não é exatamente assim que funciona. Senão seria impossível fazer o que a gente faz todos os dias. O caminho que começa na tela em branco e vai até a entrega final envolve muitas coisas: nosso repertório, nossa capacidade de saber ouvir e perguntar, nossas estratégias, a nossa história de vida, nosso inconsciente, nossa saúde física e mental. Esses elementos se juntam nas várias escolhas que temos que fazer e nas várias possibilidades que renunciamos durante a jornada. Claro que vem com um pouco (ou às vezes um tanto) de angústia também. É tanto elemento junto que talvez seja mais fácil acreditar no cometa e esperar por ele.
Criatividade não é coisa de artista, não é trocadilho publicitário e nem um momento de inspiração divina. Pensando nisso e, inspiradas nas nossas conversas da última semana, separamos algumas coisinhas que podem ajudar qualquer pessoa a lidar melhor com o processo criativo. Sem se achar “quadrado demais” e sem esperar aquele momento de iluminação.
1. A cripassividade
Outro dia, uma colega, em situação de bloqueio criativo, me disse que não queria mais ser criativa, queria ser “cripassiva”. Na hora, ela quis dizer que a vontade era de ver o trabalho se materializar na frente dela sem ter que fazer nada. E quem não quer, né? Depois, chegamos à conclusão que criar exige alguma passividade.
São os momentos em que ouvimos, lemos, brincamos, sonhamos, fofocamos, viajamos, enfim, vivemos fora do trabalho e vamos aumentando o nosso repertório. Tudo isso forma uma espécie de caixinha de ferramentas que torna todo o processo mais suave. E não é que trabalhamos 8h por dia e corremos atrás dessas outras coisas no restante do tempo (alô, burnout!). É apostar no vazio e receber o que aparece nele.
2. Pensar dentro da caixa é bom também
Um dos momentos mais aterrorizantes da nossa rotina é ouvir que: “Olha, pode pirar neste trabalho, você tem liberdade total”. É uma sensação muito parecida com aquele dia de “redação tema livre” da escola. Este momento volta na forma de “faz a sua mágica” ou de “precisamos pensar fora da caixa” em qualquer quarta-feira à tarde. Até agora, a melhor forma que temos de lidar com isso é apostar na caixa.
O trabalho criativo é um trabalho. E assim como todo trabalho, ele acontece dentro de um espaço, com ferramentas próprias para aquele trabalho, com o conhecimento que ele demanda, com a experiência de quem faz. A liberdade criativa só é livre mesmo quando ela é possível dentro de um contorno, de regras e acordos que tornem este espaço possível.
3. Expectativa x realidade: a hora/bunda na cadeira importa
O momento mais frustrante na vida de quem cria qualquer coisa – e isso vai de ilustrações a planilhas de Excel – é aquele momento que a gente percebe que o nosso gosto está melhor e mais refinado do que o que a gente é capaz de fazer. Aquele momento em que uma solução aparece perfeita na nossa cabeça, mas a nossa mão ainda não é perfeita para realizar.
E aí não tem jeito, são as horas de voo que vão tornar isso possível. Ou, como gostamos de chamar aqui, a hora/bunda na cadeira. Repetindo, praticando, refletindo e aceitando que o trabalho perfeito só existe na nossa cabeça mesmo.
Para continuar explorando
Esta newsletter foi inspirada nas nossas conversas, mas também conta com a inspiração de tantas coisas que lemos e consumimos ao longo do caminho. Seguem algumas delas:
O livro Criatividade e processos de criação, da artista plástica Fayga Ostrower
O livro Sobre a escrita, do ícone do terror Stephen King
O livro O caminho do artista, da rainha dos exercícios e páginas matinais, Julia Cameron
O livro Do que eu falo quando falo de corrida, do escritor e ultramaratonista Haruki Murakami
O livro Grande magia, da escritora bestseller Elizabeth Gilbert
O livro Hit makers, do curioso editor da The Atlantic, Derek Thompson
O livro Ser criativo: o poder da improvisação na vida e na arte, do músico Stephen Nachmanovitch
O clássico Roube como um artista: 10 dicas sobre criatividade, de Austin Kleon
Esta série de posts da nossa conteudista Marina Oliveira sobre as ferramentas que destravamos nos processos criativos: ativar, questionar, observar, compartilhar, experimentar.
Este vídeo sobre "pensar doido", da Leila Ribeiro no Ossobuco
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