No início de julho, publicamos um card em branco nas redes sociais da Lavanda. A inspiração foi este artigo de Becky S. Korich, publicado na Folha naquela mesma semana. Se o paywall não te deixa ler, nós fazemos um resumo aqui (mas vale a pena, viu?). Fala sobre uma nova fobia coletiva, o medo do silêncio e da solidão neste momento em que quase todas as nossas conversas chegam, em algum momento, no “Sabe como é, menina, tanta coisa, a vida tá muito corrida”.
A vida pode mesmo estar corrida, mas será que não é exatamente isso o que queremos? Uma agenda toda colorida preenchida, um feed infinito para a hora de ir ao banheiro, um podcastzinho de crime para lavar louça, aquela aba do Twitter sempre aberta. Afinal, não seria tudo isso um jeito de não lidar com esse grande vazio que é... existir?
Quando conversamos sobre o artigo, falamos sobre essa falta de vazio e fomos longe. Conversamos sobre Camus, recorremos a este vídeo do Christian Dunker e ficamos martelando o assunto. Mas não somos filósofas nem psicanalistas. Criamos conteúdo para as redes sociais, estas plataformas nas quais as pessoas estão rolando o feed sem perceber. Conteúdos muito bacanas e agregadores misturados a vídeos que você nem lembra que assistiu, e aí os stories daquela viagem que parece que só você não fez.
Nossa conclusão foi o post em branco. E como foi difícil aceitar até esse vazio. “Mas aí não vamos colocar nem o nosso logo?”, “Será que não é melhor um reels ‘que entrega melhor’?”. Não. Um post em branco. “Mas branco mesmo? E as pessoas que usam as redes naquele modo escuro?”. Tivemos que lidar com muitas coisas para seguir em frente.
Um card em branco e uma legenda dizendo “Será que este card é a única parte do seu dia que não está preenchida hoje? Fica aqui a nossa contribuição para um vazio no meio desta timeline lotada de estímulos”. Parecia simples e inofensivo, mas as respostas que recebemos nos bastidores foram impactantes.
A reação geral foi que, olhando de primeira, o post parecia um bug da plataforma. Depois, ao ler a legenda, teve gente na DM falando que viu o post e pensou em largar o trabalho, que imediatamente abandonou o celular na hora do almoço, gente percebendo a necessidade do vazio – ainda que impossível no momento – e teve quem adicionasse no calendário o espaço para o nada. E aí fomos nós que ficamos impactadas em perceber que conteúdos têm efeito. Mesmo que estejamos só rolando o feed como quem não quer nada.
Depois deste último parágrafo, fiquei um tempo encarando o branco da tela do Word. E aí eu quase caí na armadilha de tirar uma grande lição do nosso post em branco. Só que aí eu estaria dando um sentido meu a este vazio. E eu prefiro que você aproveite este buraco do seu jeito.
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