🌿 Para ler antes do detox
Oi, 2024, quer tc? Uma newsletter que pode desaparecer no vão do elevador.
Se você está recebendo este e-mail, é porque eu não ganhei na Mega da Virada. E posso apostar 10 reais (só isso, pois não ganhei na Mega da Virada) que você também não. E se dar bem na loteria foi a primeira promessa que, como todos os anos, não cumprimos em 2024.
E nós tentamos. Aos 45 minutos do segundo tempo, fizemos o bolão da Lavanda. Com direito às piadas clássicas de “não me deixa de fora, não quero ser a única trabalhando em 2024” e os planos de ir viver em uma vila alternativa na Bahia. Ou na Grécia? Mas a grande promessa mesmo, a de sempre, foi essa: desaparecer. “Vocês não vão mais ouvir falar de mim” ou, como se dizia em 2023 – e eu espero que acabe logo –, “não falarei nada, mas haverá sinais”.
Já perdi as contas de quantas vezes fiz esta promessa de ganhar na loteria para, em seguida, desaparecer. Mas, na virada de 2023 para 2024, ela bate um pouco diferente. Como se desaparecer significasse ficar 100% offline. Foi um raciocínio que combinou muito com este vídeo aqui...
Reprodução: X
Ele fez render nossa primeira discussão interminável de 2024 no Twitter X sobre como estamos cada vez mais desconectados do mundo real. De um lado, quem acha que aquelas pessoas desaprenderam a aproveitar o momento e estão coladas no celular, que precisamos desesperadamente de um detox, um jejum de dopamina. No outro canto do ringue, a turma que defende que conseguir filmar o réveillon no Arco do Triunfo e colocar no Instagram é, sim, um modo de aproveitar o momento. Que você não é nem doido de passar aquele frio todo na multidão em Paris, gastando em euro, para não registrar. Para não mostrar pra Vanessa da 5ª B que você venceu na vida, sim.
Arroz por cima ou por baixo do feijão? Ler um livro ou assistir ao BBB? O inimigo agora é outro: assistir ou não a não um momento significativo da sua vida através de uma tela de 6 polegadas retina display?
Eu não lamento que milhares de turistas tenham escolhido pegar o celular na hora da virada em Paris. Também não acho que seja um retrato “destes tempos sombrios em que vivemos”. Se eu tivesse um filme de 36 poses em 1997, talvez tivesse feito o mesmo. Ou na minha Cybershot de 2007. Ou naquele mesmo dia em Paris.
Mas como o celular, um objeto que cabe perfeitamente naquele vão entre o elevador e o seu andar, pode mandar em tanta gente? A ponto de, mesmo por um segundo, eu acreditar que, para desaparecer, ficar offline e finalmente estar pronta a apreciar o mundo à minha volta, eu precisaria de, sei lá, de cada um dos 588,8 milhões de reais da Mega da Virada.
Se algum dia eu chegar aqui à sua caixa de entrada, vestida de Pernalonga de batom, para dizer como você deveria aproveitar o réveillon, pode se desinscrever. E também comentar aqui embaixo que está “deixando de seguir em 3, 2, 1”. Haverá sinais de que eu não só errei todos os números da Mega, como também me transformei nessa chata.
Ainda assim, peço licença para te convidar a experimentar umas coisinhas em 2024. Tipo fazer o que você realmente quer. Quer postar? Posta. É de bom tom? Sei lá, tanto faz. Quer desaparecer do celular? Desaparece. É de bom tom? Sei lá, por mim tanto faz também. Mas que, na tela ou fora dela, a gente possa viver as nossas escolhas, plenamente, com suas consequências boas e ruins. As que nos tornam as melhores versões de nós mesmas (argh) e as que a gente não postaria jamais.
Não vai ser sempre gostoso. E a graça é essa mesmo.
Feliz 2024!