No domingo à noite, recebi uma mensagem da minha irmã depois que perguntei como foi a prova do Enem. Ela respondeu:
Eu já sabia qual tinha sido o tópico da redação, porque ele bombou nas redes sociais. Talvez tenha sido mal escrito, não saberia opinar. Mas este assunto, principalmente para as mulheres, deveria estar na ponta da língua. Afinal, a nossa vida inteira é um grande 'Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil'.
Não era só sobre o cuidado materno que o Inep queria que os adoles falassem. Também era sobre o problema que quase todas as mulheres têm quando alguém da família adoece ou precisa de atenção constante. Até o pet vira trabalho de cuidado das mulheres. Mas quando as mulheres adoecem, quem cuida? Quem cuida de quem cuida?
Você quer dados? Segundo o levantamento FGV IBRE 2023, se o trabalho de cuidado fosse propriamente remunerado, o PIB brasileiro poderia crescer 13%, um resultado de dar inveja às grandes potências globais. Estamos falando de tarefas que envolvem a casa, o lar e a família. O reconhecimento econômico deste trabalho é essencial para que ele seja visto, valorizado e compartilhado.
Os desafios que enfrentamos também fazem parte de uma cultura que vê apenas as mulheres como cuidadoras, e de uma cultura que diz que "amar é cuidar". Só que cuidar não tem gênero. É típico dos humanos e não apenas das mulheres, é uma parte da evolução humana. Então por que tantos homens brasileiros acham que as mulheres que devem cuidar da casa, dos filhos, dos pets, dos pais, dos doentes, dos avós… Por que vemos trabalhos que são relacionados ao cuidado serem voltados para mulheres, como babá, enfermeira, professora infantil?
Qual é o nome da cultura que desumaniza a mulher para achar que ela tem deveres de cuidar de todos e não cuidar de si?
No fim do dia, depois de ouvir da minha irmã que o tema da redação era fraco, pensei. Como outras mulheres escreveriam essa redação? Como as mães responderiam? Como jovens adultas responderiam? Como avós responderiam? E você que me leu? Como você responderia?