💐 A solução é apagar as redes sociais?
Uma história de amor e ódio e a procura pela via do meio.
Esta newsletter foi escrita ouvindo a cantora inglesa Jessie Ware, no álbum 'What's your pleasure?', lançado em 2020. Se você não a conhece, não se preocupe. É só apertar o play aqui.
Para ler este texto, comece pela segunda música do álbum.
Sinto um desgosto profundo pela pessoa em que me transformo quando passo horas rolando a tela da minha conta do Instagram. Fico me julgando, e, à medida que o tempo passa, o sentimento só piora: definitivamente não é o tipo de pessoa que desejo ser. Isso sem falar na cultura de comparação e na ilusão que é exibida constantemente.
Tenho discutido isso com amigas e a resposta passa sempre pela ideia que qualquer um pode "desconectar" e "apagar as redes sociais" se realmente quiser. Só que não me parece tão simples assim. E também temos que admitir, para começo de conversa, que parte da internet se transformou em um lugar inóspito (vide Xwitter).
A conversa com as minhas amigas continua com um olhar de pena para cima de mim: "Ah é, você não pode apagar, trabalha com isso”. Verdade, trabalho. Minha sobrevivência financeira vem deste ambiente que quero estar, mas o problema é que as redes sociais vieram sem manual de uso para minha geração. Desbravamos esse oásis que antes era mato puro.
Gerações que vieram antes da minha ainda têm dificuldade de checar e distinguir uma notícia falsa de uma verdadeira. E os almoços de família contam com toda a credibilidade das frases "o Facebook disse" e "recebi no zap". Então é tudo verdade.
Amor e ódio
Por que sempre parece que temos apenas duas opções? Estar totalmente dentro ou matar o próprio avatar? Quem você está tentando enganar quando diz a si mesmo que a solução é só se desconectar completamente? Será que tenho que aceitar que vou ser um pouco infeliz o tempo todo só porque não estou disposta a abrir mão do feed?
Vejo com certa constância na minha bolha virtual muitas pessoas colocando em seus avatares termos como "FÉRIAS" (assim mesmo, em caps lock, GRITANDO) ou “Vivendo o offline" para dizer que estão fazendo um detox temporário das redes sociais. Acho justo, admiro quem consegue. Eu nem tento, mas modero o uso durante as férias e quando estou em casa.
Não creio que eu esteja em um estágio em que possa me desligar completamente. Muitas das minhas conexões acontecem através do que está circulando online. Adoro a cultura dos memes, me divirto com vídeos bobos de filhotes de animais, amo enviar receitas estranhas para minha mãe (e ela faz todas), faço e fecho negócios na internet e, sinceramente, não consigo me imaginar realizando o meu trabalho sem estar conectada.
E se eu realmente abrir mão, será que encontrarei a felicidade? Não tenho essa resposta, mas esse não é o caminho que quero seguir.
Thais Cunha, editora de conteúdo aqui na Lavanda Digital, também se sente enganada pelos videozinhos rápidos no TikTok (sou cringe e gosto do Instagram), mas o prazer inerente nisso é superior à culpa de perder tanto tempo em "bobagens" que faz subir minha endorfina.
Neste momento você deve estar com os sentimentos confusos em relação ao que fazer, apago ou não apago?
Não apaga
Podemos utilizar as redes sociais para enriquecer nossas vidas, encontrar comunidades, conforto e apoio quando essas coisas podem estar ausentes no mundo real. Pessoas podem encontrar até o amor, como eu mesma encontrei o meu primeiro namorado na internet (saudades, mIRC <3). Famílias podem manter contato e acompanhar entes queridos crescendo à distância.
Uma vida conectada é possível desde que estejamos conscientes. Sim, conscientes. Algumas atitudes inteligentes podem ajudar nisso: manter o celular longe do quarto na hora de dormir é um bom primeiro passo para ter uma relação saudável com a tecnologia. Estou há exatos onze dias fazendo isso, e confesso que estou dormindo melhor e o bruxismo acalmou. Estipular tempo de uso é outra das minhas táticas.
Sou contra quem faz esforços para fingir que as redes sociais não existem porque a realidade é que elas existem apesar de qualquer negacionismo. E, embora eu tenha vivido experiências negativas relacionadas ao uso excessivo delas, sempre penso em maneiras de abordá-las de forma diferente e com mais equilíbrio, principalmente quando somos o principal exemplo em casa. Nosso tempo de tela influencia o tempo de tela dos nossos filhos.
(Neste momento Jessie Ware está ressoando nos nossos ouvidos…e consigo fazer um paralelo com o prazer que a internet traz para minha vida.
🎶 I know the way to make you happy
I give you love, you give it back to me
Who can deny this perfect symmetry? 🎶)
Atualmente, tenho presença em dois mundos: o IRL (In Real Life) e o Url (Uniform Resource Locator). Pra mim a é uma das perfeitas simetrias da vida adulta. Não quero ter uma vida 100% online, longe disso, muito menos ser como alguns turistas de Milão, como bem contou Thais Cunha na última Rascunha.
Quero apenas um feed pessoal que não incite inveja em ninguém e deixe meu coração tranquilo e sem pressão. Independentemente do momento – férias, trabalho, feriado – posso me posicionar em qualquer lugar no longo caminho entre ON ou OFF. Parece ideal.
Esse texto foi editado por Thaís Cunha 🤝