Por Ana Jabur
Nada contra as cervejas leves, mas quando olham para mim num bar cheio de cerveja boa e vão logo me oferecendo uma Pilsen, a mais leve de todas, eu não curto. Sabe aquelas? Será que não estão pegando um bordão nada aleatório "mulheres preferem bebidas mais suaves (ou doces!?)" e afastando você (eu), mulher adulta, singular e única nos seus gostos e interesses, de uma coisa tão legal e diversa quanto a cerveja artesanal?
Sou jornalista de formação e atuo profissionalmente no meio cervejeiro há uns bons anos - há dois, sou sócia da Fermentaria, uma cervejaria artesanal de Brasília que nasceu em 2020, plena pandemia. Mas antes disso já era uma curiosa do mundo da cerveja. O começo com as artesanais foi complicado, tinha pouca afinidade e sentia essa pressa em escolher logo. A experiência me trouxe gratas surpresas e é isso que eu quero dividir com você, mulher, que pode estar no automático fazendo sempre as mesmas escolhas, como se esse mundo fosse distante de você.
Antes de mais nada, queria reforçar aqui meu apreço pelas cervejas ditas leves ou menos amargas - Pilsen, Lager - e inclusive pelas mais docinhas - uma Tripel no frio cai belissimamente bem, uma Guinness harmonizada com um chocolate está entre uma das minhas combinações preferidas para qualquer clima. Mas também sou fã do amargor pungente das IPAs e das mais diversas combinações de lúpulo. Se a cerveja também aguça sua curiosidade, o que eu proponho mesmo é uma aproximação destemida diante da diversidade de escolas, tipos e sabores. Algo te impede de seguir experimentando, descobrindo, harmonizando?
Saiba que as mulheres sempre estiveram envolvidas na produção e distribuição de cerveja. Senão, vejamos. Como ela é feita desde, tipo, cinco mil anos? Uma panela imensa (caldeirão mesmo, dos grandes) cozinhando por horas no fogo, sendo acrescentados aqui e ali ingredientes selecionados seguindo o passo a passo de uma receita minuciosa. Já dá pra imaginar quem comandava tudo isso, né?
Na Inglaterra do século 14, cerveja era uma parte vital da dieta das pessoas. Há relatos da gerência das mulheres em tabernas como um dos primeiros trabalhos femininos permitidos fora de casa. Elas faziam e vendiam as próprias cervejas! Tudo mudou com a chegada da industrialização e a tomada dos meios de produção por… homens. Sacou a jogada? Corta para os dias de hoje, o patriarcado vem com essa história de que existe uma cerveja de mulher e o resto todo é muito forte ou muito amarga pra você.
Por isso te convido, mulher, a experimentar tudo que é tipo de cerveja antes de simplesmente pedir a mais fraca, a mais normal, a mais descomplicada. Tem muita cerva boa pra ficar sempre na mesma. O primeiro passo é ir se familiarizando com diferentes escolas e sabores, que tal? Aqui vão algumas das minhas beer influencers/sommeliers/estudiosas preferidas e mais referências:
Negra Cerveja Sommelier
Cilene Saorin
Bia Amorim
Dádiva
Japas Cervejaria
Guia da Cerveja Brasil
Muito obrigada pela menção. :)))