🌿 Essa tal síndrome da impostora tem outro nome
Um rótulo pesado demais para carregarmos sozinhas
A Bruna Marquezine tem. E a Viola Davis, a Emma Watson, a Natalie Portman. A Rafa Brites até escreveu um livro sobre o termo. A Jout Jout fez um vídeo e a Michelle Obama não ficou de fora. Todas essas pessoas famosas e bem-sucedidas já duvidaram de si a ponto de pensar que, em algum momento, alguém poderia descobrir que, na verdade, elas não são essa coca-cola toda. Até aí, quem nunca, né?
Este sentimento que é uma mistura de não-pertencimento com ansiedade, com uma pitada de autossabotagem, excesso de autocobrança e otras cositas más recebeu o nome de “síndrome da impostora”, assim mesmo, no feminino. Isso porque o machismo também sustenta o mix. Além do racismo estrutural, da xenofobia, do capitalismo, do individualismo e otras cositas mais más ainda.
Parece que muitos nomes foram batidos no liquidificador até que, no ano da graça de 1978, as psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes desenvolvessem o conceito de como “fenômeno do impostor”. O estudo focava em mulheres “de alto rendimento” e concluiu que “apesar das extraordinárias realizações acadêmicas e profissionais, as mulheres que experimentaram o fenômeno impostor continuam acreditando que não são realmente brilhantes e enganaram qualquer um que pense o contrário”.
Ler sobre síndrome da impostora na internet e sair sem um diagnóstico parece uma tarefa impossível. Especialmente para nós, mulheres. Durante a pesquisa para este texto, me rotulei muitas vezes. Depois questionei o próprio rótulo porque não é possível que alguma coisa me coloque no mesmo patamar de artistas hollywoodianas e mulheres gigantes do mundo corporativo.
Não foi só a própria síndrome da impostora que me livrou do título de impostora. Nem mudar minha mentalidade para ser mais positiva e acreditar mais em mim. Por um lado eu me consolei sabendo que já tenho muitos diagnósticos de celebridades: a psoríase da Kim Kardashian, a síndrome do intestino irritável de Fê Paes Leme e Cher e a ansiedade de qualquer mulher da minha geração. A minha cura para a síndrome da impostora, foi, na verdade, por um caminho mais bad vibes.
Primeiro, eu perguntei para as minhas colegas, de um time 100% feminino, como elas lidavam com isso. Já supondo, claro, que este é mais um peso que temos que carregar porque somos mulheres. Nós falamos sobre os processos criativos que nos levam a rascunhos muito meia-boca, sobre estarmos sempre aprendendo, sobre representatividade, empatia e apoio. Depois, eu achei que estava em bloqueio criativo porque este texto não saía nunca. Até que finalmente aceitei que não tinha pesquisado o suficiente. Eu estava – e talvez esteja – sendo uma impostora.
Em uma entrevista, a atriz premiadíssima Viola Davis afirma que todo artista tem síndrome de impostor. Ela fala que não é uma falta de confiança, mas aquele sentimento de que estamos sempre no meio de um processo: aprendendo, sabendo que podemos nos tornar melhores no que fazemos e, graças a isso, continuando. Isso não deveria ser ótimo?
Com a popularidade que o termo ganhou nos últimos anos, parece que passamos a misturá-lo com outras coisas. É síndrome da impostora ou a ansiedade de concluir logo um trabalho? É síndrome da impostora ou é a falta de representatividade? É síndrome da impostora ou eu estou me comparando demais com essa menina perfeita do Instagram?
A síndrome da impostora ganhou um peso muito perigoso principalmente porque nos convoca a resolvê-lo apenas dentro das nossas cabecinhas. Nesta palestra, Valerie Young, uma das maiores referências do mundo no assunto, convoca o público a "aprender a pensar como um não-impostor". Young é autora do livro "Os Pensamentos Secretos de Mulheres de Sucesso: Por que as pessoas capazes sofrem da síndrome do impostor e como prosperar apesar disso".
Eu seria a maior impostora do mundo se questionasse a maior especialista em impostor do mundo. Valerie Young tem um programa de vários passos para se livrar da síndrome da impostora e tem tido alunos de sucesso por muitos anos. O problema é que os métodos são sempre solitários: "Para parar de se sentir como um impostor, devemos parar de pensar como um impostor", uma outra forma de falar para você fingir acreditar em uma coisa até que ela magicamente se torne verdade. Uma fronteira fininha com aqueles momentos nos quais dou o play na trilha de Laços de Família e finjo que sou a Helena de Manoel Carlos.
É muito pouco provável que eu me torne a Helena. E é pesado demais pensar que vou resolver tantas coisas apenas me esforçando para pensar diferente. É como se, sozinhas, cá com os botões do nosso mindset, também devêssemos consertar problemas sociais muito profundos.
Quando eu sou a única mulher em uma reunião cheia de homens brancos de meia idade, eu me sinto impostora. Sobretudo porque fica claro que aquele espaço não é para mim. As atitudes de homens me explicando o que eu já estudei muito para saber ou me interrompendo a cada cinco minutos também não ajuda. Não sou eu, sozinha, com a minha autoconfiança, que vou mudar isso. E parece meio cômodo para muita gente transferir esta responsabilidade para mim.
Ao carregar o peso deste rótulo, ganhamos uma boa desculpa para as nossas inseguranças, mas fugimos das questões reais que estão envolvidas nele. Sozinhas, vamos fugindo de angústias muitas vezes necessárias, pulando etapas de processos, deixando de aprender e, sobretudo, tentando resolver problemas que não são só nossos.
Estamos de olho
Você já parou para pensar em quantas escritoras mulheres estão na sua estante? No último fim de semana, várias cidades reuniram autoras para uma foto oficial: teve em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Jujuy, Roraima, Londres, Cuiabá, Rio Preto, Macapá e muitos outros.
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